domingo, 30 de março de 2014

Rascunho em excesso



Um rombo
ao roxo.

O sangue
pisado
desaba
como um lugar vazio.
Ao vazo sem água
como cratera
esvaziada de sentido

E quando o buraco faz-se o oco
resta esperar
divagações
Novas discussões
Presas imersões

Os dias que engolem ás horas

A pele insustentada
de tua frigidez 
sem volta.
Transmuta-se no corte.

O desligamento 
da pele 
uma nova
intromissão 
externa
Difere-se do impacto 
aroxeado no entre 
uma superfície 
e outra

A gramática da sofreguidão
De tudo que se faz 
ao além 
do revestimento
das confusões sem abrigo
do emprego do verbo sem tomar

Caí
ferida
lilás.

Como a luz próxima do norte
Como o desabar crepuscular da solidão

A Cicatriz
A epidemiologia das marcas
Um festival de reprovações para um corpo morto
Uma nova pancada.

O sabor ácido
do insensível
escoa
É gordura
Petróleo do solo,
com um pouco de carvão.

É um pé, escancarado pela sensibilidade das pernas
O vermelho que marca a base sem apoio no calcanhar
A posse 
de sapatos.
O enquadramento do percalço
É como quando as palavras
solitárias
fazem-se calar.

O poder, 
sem poder 
a ficar
Contas 
do inacabar

O paços já publicados
de todos enigmas ensaiados
lágrimas
endurecidas
de pedras,
o salutar. 




terça-feira, 25 de março de 2014

Abismal

A coisa
              está.
a pedido
de que
                                                                                 esvai.
Ao esboçal não é eu sim-eu-sem-tindo-sétido-se-é-tido
                                                              
e é tido-sem-sem-tido-sem-terido-sem-tindo

                                                                            
                                                                                  eu 
    tropeço
                                                                                              reduzindo
                                                                       o que me consegue
          
                                                                                        cair-tá-aqui.
                                                      
                                                                                no passo de voar.

Ninguém.
escuta a canção das tardes frias porque dos pássaros já não podem piar. sem-ter-ido.
                                             O que me pede
                                                  constrói
o hiato
                                          é do artigo indefinido,  ido-sen-ter
                                       de indefinições no que é contar.
                                               1, 2...

3 - Você fala ao nada,
                                               eu ouço o paladar. 4.

Quando as pedras já não são mais pedras
o calcanhar
não se faz
                a disrrupção sentida
                                           conta-te.
                                                                                   
                                                                                o inaguentável  - 3/5
                                                               é cru,
aspecto impalatável do ar.

O marco preto no esboço
narrados sem estar




quinta-feira, 20 de março de 2014

Poema de perna quebrada

Eu fui, e não existo
insisto 
registro 

O marco, 
no rosto,
faz se traço
            encalço
do diz 
            sabor

O desse-amor 
na marca 
faz-se da carcaça,
De um vermelho 
condutor
Estanca 
ao que foi resto
no que ficou 
impresso
E assim, 
tropeço

fonéticas
em 
por favor
(...)

A homologia é verdadeira
no algo se faz primeira
Como o império da minha dor 
no seco estrume da flor,
O Indisível
aduba o infalível
e no invisível
faz ficar 
o dissabor [o seco estrume da flor]
a falar
sem palavras para te cantar, 
o sal, no limão com chá...

domingo, 2 de março de 2014

Ontem é sexta-feira

Ontem é sexta-feira
do tempo que já passou,
a pele que escorre a resistência do sangue,
pinga as horas,
marca os dias,
é hora de voltar para casa,
é hora de engolir a dor para dentro das pálpebras.
Baixemos as cortinas,
coloquemos
na cabeça
o chapéu
que espera
no cabideiro atrás da porta.

Um corpo 

Os nervos de um corpo de dentro para fora encharcados de poeira se fazem como válvulas entupidas de ar. Descente. A existência é feita de cortes de fora do ar quente, em cima das superfícies das peles. E, se se pudesse vir a desenhar nervos de fora do corpo, os nervos em interface com as superfícies, eu me tornaria algo autêntica, como uma sustentação. Queria? É uma pergunta de como querer. Tal qual o que se inscrever na dor... O que de fato escapa, o que escorrega entre meus dedos? A dor, o que fica, paradoxalmente e simultaneamente, foge. Inscrevê-la! Porém, fluídamente ela desfaz-se... 
E, então, busco falar com a alma, mas mutilada, ela só cala, a me por sinais no que não posso tomar, a nervura óptica do dissabor. O caso é de ver por fora da pele, os dedos falam e mentem no papel, metem no agudo o que não pode ser dito na voz não treinada. O caso não é de papel é de pele, de superfície colorida mais que branca. Tons discrepantes formando um sentido só.
Há duzentos tons em voz, que moldam um corpo; existe apenas uma só canção, aquela que não pode ser cantada, jamais pode ser ouvida.  
 Jamais,
Estanca como faca.
Sua voz no solo irrefletida por uma lua distraída que me obriga a olhar.
O dilema se faz novamente, a mão que apoia o rosto para que este não lhe caia; o corpo do dorso que me faz sentir a tentativa de mutilização. Na morte, há alguma tranquilidade no que acaba. É a sua contradição que descama. Um eco estéreo e fértil. Clama pelo que já foi doído, desanda, me leva pra onde não sei andar. Pôr acento nas palavras, esquecer gráficos sonoros e sinais. A curva normal de todos os dias me faz ficar na ponta da lógica; sem querer, escorrego para a esquerda, depois de centralizar a ambição apontada para o teto da fórmula e, no desconhecer, sou duplamente esquecida em seus resultados.


Tenho fome. Fome de mentiras antes pronunciadas em outras dicções, a fome de equivalência numa equação. Equivalência estérea. Há um sistema de reprodução de áudios sólidos na medida em que eles não estão aqui. Como o ar, o vômito, o grito, antes como a terra que faz um suspiro, é o respiro adubado de não fertilizar. Estes sim! Estão todos aqui. A fome e a fala, a fome fala pelo engolir.