Ontem é sexta-feira
do tempo que já passou,
a pele que escorre a resistência
do sangue,
pinga as horas,
marca os dias,
é hora de voltar para casa,
é hora de engolir a dor para
dentro das pálpebras.
Baixemos as cortinas,
coloquemos
na cabeça
o chapéu
que espera
no cabideiro atrás da porta.
Um corpo
Os nervos de um corpo de dentro
para fora encharcados de poeira se fazem como válvulas entupidas de ar.
Descente. A existência é feita de cortes de fora do ar quente, em
cima das superfícies das peles. E, se se pudesse vir a desenhar nervos de fora
do corpo, os nervos em interface com as superfícies, eu me tornaria algo autêntica,
como uma sustentação. Queria? É uma pergunta de como querer. Tal qual
o que se inscrever na dor... O que de fato escapa, o que escorrega entre meus dedos? A dor, o que fica, paradoxalmente e simultaneamente, foge. Inscrevê-la! Porém, fluídamente ela desfaz-se...
E, então, busco falar com a alma, mas mutilada, ela só cala, a me por sinais no que não posso tomar, a nervura óptica do dissabor. O caso é de ver por fora da pele, os dedos falam e mentem no papel, metem no agudo o que não pode ser dito na voz não treinada. O caso não é de papel é de pele, de superfície colorida mais que branca. Tons discrepantes formando um sentido só.
E, então, busco falar com a alma, mas mutilada, ela só cala, a me por sinais no que não posso tomar, a nervura óptica do dissabor. O caso é de ver por fora da pele, os dedos falam e mentem no papel, metem no agudo o que não pode ser dito na voz não treinada. O caso não é de papel é de pele, de superfície colorida mais que branca. Tons discrepantes formando um sentido só.
Há duzentos tons em voz, que
moldam um corpo; existe apenas uma só canção, aquela que não pode ser cantada,
jamais pode ser ouvida.
Jamais,
Estanca como faca.
Sua voz no solo irrefletida por
uma lua distraída que me obriga a olhar.
O dilema se faz novamente, a mão
que apoia o rosto para que este não lhe caia; o corpo do dorso que me faz
sentir a tentativa de mutilização. Na morte, há alguma tranquilidade no que
acaba. É a sua contradição que descama. Um eco estéreo e fértil. Clama pelo que já foi doído, desanda, me leva
pra onde não sei andar. Pôr acento nas palavras, esquecer gráficos sonoros e
sinais. A curva normal de todos os dias me faz ficar na ponta da lógica; sem
querer, escorrego para a esquerda, depois de centralizar a ambição apontada
para o teto da fórmula e, no desconhecer, sou duplamente esquecida em seus
resultados.
Tenho fome. Fome de mentiras
antes pronunciadas em outras dicções, a fome de equivalência numa equação.
Equivalência estérea. Há um sistema de reprodução de áudios sólidos na medida
em que eles não estão aqui. Como o ar, o vômito, o grito, antes como a terra
que faz um suspiro, é o respiro adubado de não fertilizar. Estes sim! Estão todos
aqui. A fome e a fala, a fome fala pelo engolir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário