segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Chegada

As pequenas
sombras
do
meu país
são
cheias
de
riscos
gráficos.

Planta-se
estrelas.

Refaz-se
um
céu.

Para 
ver
um
azul
de cores

convergentes

vermelho
morango
pôr-do-sol.

Das palavras
tiram-se
os traços,

Jantam-se
o céu
o mar
a areia.

A tinta,

aos
poucos,

sem
nuvens

clareada
imensidão.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Ponteiros

Um relógio
parado
engole
o tempo

quarta-feira
meio da semana

afasta-de 

ao
domingo

Aproxima-se
lentamente 
morosamente

semanas

O coelho
vira
o pato

Corre
ao sol
de um
lago
sem
peixes
repleto
de
tartarugas.

sábado, 17 de dezembro de 2016

Origens

Cascas 
Laranjas
no
lixo
vibrantes
coloridas
folhas de chá.

Reutizados
bonitos
do que
já foi
tomado

orgânico
fertilizado

de tudo
que 
sobra
e refaz,

um colorido
abaixa
a pressão.

Esquenta
renova
esfria
fermenta.

Cores
transformam-se

Mais
cores.

O ar
respira
através
de restos
em poros
na terra.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Vida ou a água para uma flor

Radiografia

Um pouco
de medo
entre os
dentes

Uma
dor
atrás
do
pulmão

Intermitente

Preenche
de dor
meu 
peito de
amor
frontal

Ondas
que
passam
pelo
interior

Interno 

Sinto1

Sinto2

Destino

[pre-sinto!]

Na cabeça
verso
crâniano
coberto
de flores
margaridas

Pinga
orvalho
dentro
dos
meus
lábios

Rosas
cobertas

Piscina
de uma
clara
medonha
translucida
visão 

olhos
livres

Respira1

Respira2

barulhos. 

sábado, 3 de dezembro de 2016

Metalinguagens

As dores
não
escrevem
poesia

são
barulhos
sem
voz

monstros
na
sombra
do 
escuro

as memórias
não
escrevem
poemas

elas
se
guardam

no
interior
de
uma
televisão
quebrada

como
um
som
prejudicado

ás
quatro
da manhã

Os balões
não
escrevem
poemas

eles
voam
vermelhos
híbridos
rosa
transparentes 

As pessoas
não
escrevem
poemas
sentem-se


Elas.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Clássicos

Vozes
distantes
o
barulho
seco
rangente 
dos
estalos
dos
restos

recém
desligados

meia
luz

apagada

um
gato
que
dorme
é
tomado
por
um
timbre
anonimamente 
cortante 

como
uma 
nota
de
um
instrumento
abafado 
em
um
fosso
aberto

ressonâncias
entram
negando
ao
compor
a
música
do
cotidiano 

embotados
em
um
verso
clássico
sem
água

gritos
calvos
de poeira



quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Herança

Nos meus
olhos
pesa
leveza
de 
duas 
pálpebras
sobrepostas

A primeira
pessoa 
do
impossível

Uma
língua
sobre
outra
de
fala
pesada

Campainhas
tocam
sons
truncados
pela
distância

Sons de
guache 
borrados
em
água
da
chuva

Chove
porque
troveja
e
separa
o céu  

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Fora do bando

uma
formiga
fora
do
bando

andando
para
fora
da rua
na rotina

levanta
seu
pedaço
de folha
viaja

e ilumina

através
das
pequenas
patas
pretas
de inseto
o
reflexo
do sol
quente
no
caminho

Poesia no desfiladeiro

Quando
falo
com o
escuro
ele
responde
com
sua
grande
língua 
invisível
e
passionalmente
vermelha. 

O escuro
fala
com
os
ecos
que
demarcam
o
chão. 

O eco
dos
móveis. 

O eco
da
geladeira. 

O eco
vazio
do
espelho.

O escuro
que 
clareia
as
imagens
invisíveis. 

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Construção

Empreitadas 

reformas
que
dão
com

furadeira

no
quarto
da
parede

ao
lado. 

No
concreto
abre
um 
buraco 

               Infiltração

reformas
que
dão
outras
reformas

                 Aflição

No
concreto
pedreiros
soldados
derrubam
o teto.

O som
mortal
insiste
resiste
abre
a janela
pra lua. 

A guerra
interna
nos
barulhos
da rua.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Ato introdutório

Os personagens
todos
aparecem
com 
suas
espadas
em 
mãos. 

- mesmo
aqueles que carregam
flores
precisam
defendê-las
em seus
jardins. 

Ás vezes
podam-se
por
acidente. 

Companheiros

A angústia
da manhã
se
encontrou
com o
desespero
da tarde.

Vizinhas
da
alegria
que
sempre
saia
de
casa
corrida.

E às
vezes,

sem 
ser
vista.

Os ponteiros
do
relógio
a
viram
de 
longe...

Os ventos
rápidos
invisíveis
sabiam
que
estava
a procura
da felicidade
em sua
jaula
alta
onde
se encastelava
com 
medo
o jovem
amor. 


domingo, 27 de novembro de 2016

Fitoterapia

Uma
árvore
de
prédios
é uma
imagem
que
se
esquece
cinza
na
chuva. 

Como
um poste
a conversar
com
o céu
quer seus
filhos
nuvens
de 
cobre. 

À vista
transeuntes
andam
distâncias.

Bueiros.
Esgoto.
Céu.

No 
descuido
coletivo
de
ídolos
profanados.

Na
maquinaria 
da
solidão
repetida
em 
amenidades.  

o SILÊNCIO
MONTARIA
COMUM É
TOMADO
ENTRE
PALAVRAS
VERSOS
BARULHOS. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

As longas
dores
do
espírito
reaparecem
como
longas
dores
da alma.

Cantam
seus
cantos:

Vermelho
Negro
Pardo.

Como
uma
voz
a quem
nada
escuta
por
ter a
boca
extensa
cheia
de
dentes
surdos.

Como
orelhas
a apoiar
dois
lados
de um
rosto
os
dedos
falam
com
a
carne
gratuita
implícita
no
existir.

Os
olhos
do
poeta
cego
estão
cheios
de
tinta
que
o
vento
não
lavará
e
nem
as
palavras
hidratarão.




Conto falho

Era
um
conto
vazio
cheio
de
falhas

Eram
belas
e
longas
as 
palavras
do lobo

Que
roubou
uma 
ovelha
e a
levou
para
sacrifício

e ao
ter
chegado
no
topo 
da
montanha
descobriu
ela
lobo. 

ovelhas-lobos
disfarçadas

criam
as
histórias
mais
marcadas
de
um 
híbrido
dois
um 
só.

Ovelha
fugida
galopa 
a cavalo...

Flores insones

Pequenas
lembranças
de flores
derramam-se
pelo
chão
seco
do verão. 

No verde
das
coisas
estáveis
de 
existência
longínquas.

No plano
de fundo
comprável
de uma
paisagem
gratuita. 

Elas
se
mantém
acordadas
por não
possuírem 
pálpebras. 

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Terrenos

O som de
uma
casa
vazia
é o 
som
oco do
vento.

Quando
a chuva 
floresce
em
segredo
quintais
abandonados.

Quando
os quartos
fechados
não
esperam
visitas
e as
folhas
que 
vivem
na 
água 
empoçada
guardarão-se
até

verão.

Quando
a luz
do
sol
das
frestas
é 
habitante
e a
poeira
das horas
reflete
no
escuro
claro 
do
inverno.

Assim
está
meu 
coração
deserto
que
chora
a tempos
nuvens
pálidas.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Espelhos por ouro

A árvore
deu
frutos
cinza

O mar
peixes
de
pedra

Como
lustres
de luz
escura 

Jantares
terminam
vazios

Estrelas
formam
interruptores



Entendimentos

Bathroom

um
morcego
na
casa
de
Beth
a espera
de um
banheiro

casa
de banho
de morcego

Bat 
room!

Beth 
balanço

Beth
boom!

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Poesia breve

Fiz um
verso
leve
para
você
olhar.

Fiz um
verso
breve
para 
te
ver notar.

Pus teu
nome
no sapo
para te 
ver
coaxar.

Te disse
me 
esquece
para você
ficar. 

Sintoma

dor
de estômago

dor de
dentes

todas
parentes

da
alta
patente
descrentes

no 
cacho
de
banana
com
a uva 
a semente
emergente 


Versos proféticos

Automaticamente
desgastada
tola 
sutil
para
olhos
de anis. 

A indiferença
devora
o dia
e consome
as 
entranhas
da noite. 

Como
uma
sede
de areia
em
águas
do
deserto. 

O quadro
do 
desforro
final
recriado
em
pupilas
cortantes.

Uma
vez
jogadas
no
mar
cartas
achadas
de antigos
ancestrais.

Desfazem-se
poções
em 
práticas
vindouras.

Libertam-se
pássaros
cadavéricos
enjaulados
de
desgosto
para
reencarnação. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Fábula

Busco
fiapos
coração

para que
agregados
nos finos
tratos

possa
fazer-se
uma 
casa

gravetos
são
melhores
que 
palha


dizia
o porco

Mas
se
nego
o concreto
na
dor
de suas
paredes
frias

como
fiapos
bem
agregados

talvez
mais
fortes
a esta
morada

Nublagem

queria
comunicar
todas
10 mil
palavras
perdidas

mas as
tenho
engolidas

choradas

e condensadas

plenas
nuvens
distantes

a se
afastar
molemente
de mim

domingo, 20 de novembro de 2016

Cerimônia

Estampas
florais
cobrem
caixões
para 
amanhã

Descansam
na
sala
velas
a serem
acendidas 

Sobre
as flores
dormem
corpos
pelo
acaso

Lenços
cobrem
um verão
de cores
inventadas 








Estrada

Vozes
de
vidro
constituem
janelas
de casa
distantes.

Quem
me dera 
houvessem
ouvidos
surdos
e não se
sangrasse 
as lamelas.

Indizíveis
palavras
na sensação
da falta
de ar
constantes
ao peito.

Invadem-me
chagas
de outros
corpos
dérmicos.

Fogueiras
alheias
de
abafamentos
cortantes.

Óleo
no 
farol
do
retrovisor. 

sábado, 19 de novembro de 2016

Atlântida perdida

O céu
é rubro
como
morangos
invisíveis

Claro
como
o sangue
de um
sonho
distante
de frutas
comestíveis

Gostos
venenosamente
tropicais

Sabores
azedos
engolidos

No jardim
de meu
país
real
ervas
daninhas

Pequenas
flores
coloridas
claras
pisoteadas

Uma
aurora
brilhante
marcada
pela poluição

Prosseguem 

Distantes
reflexos
de hortas
livres

Flores
prenhes e
pássaros
que não
devoraram 
borboletas

Palavras pardas

Todas
as
cores
brancas
das
palavras
se
fizeram
negras
se fizeram
pardas.

O português
inintendível 
dos
poetas
escrevia-se
indecifrável.

A mata
falava
em tupi
e os
mosquitos
tinham
suas 
próprias
palavras.

Os africanos
dançavam
com 
o sol
e no
escuro
esqueciam-se
da lua,
tudo era
sempre
manhã
de verão. 

Os lusófilos
traziam
a noite
falavam
da escuridão
que
se perdia
nas
matas
verdes
nos
suspiros
do sertão. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Coração de cânfora

Coração
de cânfora
na espera
da entrega
religa
se parte
espera
renasce.

Coração
de cânfora
se parte
e renasce
se vende
e renasce
em promoção.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Siso

Fileiras
em
almas
organizadas. 

Soltam-se
raízes
ventanias
da
chuva. 

Há dores
em diferentes
partes

são
respingos. 

Uma

rosna 
descolada. 

Em
ditames
de
reis
distantes.

Um 
homem
chora
por
esquecer-se
de seus 
óculos
escuros. 

Um rosto
de espelhos
assiste
a um perfil
de estátuas
semi-nuas. 

Chove
em
novembro. 


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Anátema

Apagar
passados
como
serpentes
que
enforcaram
crianças
mortas
antes
de dormir.

Falas
mudas
dissolvidas
em aflição
e desespero. 

Um
rosto
máquina
que
não se vê
e dúvida.

Quando
toda
pele
for
tirada
dos
ossos
não restará
orbitas. 

Não
caberão
olhos. 

Os escravos
obrigados
a gozar
na penitência
terão
a alma
roubada
pelo
tempo
enlutado
ao se
render. 

Bombas de corpos

Sobrevivência
carnificina
arrancada
carcomida. 

Nas teias
atrás
do teatro
aranhas
resumidas
e farrapos
de gestos
gastos. 

O Quasimodo
toca o sino
espantado
para 
o frio
espetáculo
espera
não ser.

sábado, 12 de novembro de 2016

Pausa

Ao que
seca.

Como
o buquê
de flores
esquecido
na antessala.

As palavras
embaçadas
no fundo
da taça. 

A música
é tocada
na voz
quebrada
de alguém
que espera
com desdém. 

Os pontos
são
cicatrizes
no rosto
das palavras.

Insígnações

Não há
mais
nada
na sala.

uma 
escada.

um dicionário
abandonado
em cima
da cama.

louças
na pilha
de cima
encaixotadas.

na casa,
as fotos
foram 
queimadas.

os livros
fechados.

empoeirados
deixados
de lado
como 
o dicionário
no
quarto.

palavras
de um
braile
inútil
surdo-mudo
sem tato. 

as portas
quebradas
arrombadas
concertadas

a ninguém.

um homem
ao lado
do ordenado
aguarda
a espera
da herança.  




quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Sequestro

O poeta
roubado.

Não
foi
achado.

A chave
do 
carro.

Deixaram
no 
mato. 

Estava
a pé,
o poeta
roubado.

Pediu
emprestado
os livros
raros. 

Almoçava
fiado.

E era
infeliz. 

Escreveu
na
margem
do jornal.

Sua
grande
obra.

A lápis.

Virou
reportagem.

Seu
carro
roubado.

Recuperado.

E foi
por um
triz.

Um 
desfecho
feliz. 

O soco

Que
desgosto
um buraco
no rosto

sem o
olfato

fez-se 
chafariz

O soco
levado
o rosto
agonizado
por 
um 
triz.

O sangue
escorre

o olho
o nariz

Sujeito
arrebentado

sobrenome
transviado

João
infeliz. 

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Fineza

O português
do prefeito
é
melhor
que o
meu.

Mais 
 rico
entoa
palavras
com
veemência
 como o 
 vento
levanta as
folhas
e as
tira
do 
caminho. 

Repetir
as palavras
é melhor
do que 
admitir
qualquer
falha. 

Queremos
ser
como
prefeito
assim
tão
perfeito. 


Desertos

uma
miragem.

Por detrás
nos
encanamentos 
da casa 
alguma
coisa
cinza. 

Velha
nova
revista.

Implode.

Como
as veias
ignoradas
constroem
corpos
azuis
mostrado-se
sutilmente
às visitas. 

Os canos
médicos
as bombas
de ar
a respiração
invisível. 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O gato

Saltos
batem
no 
solo
do salão
vazio.

O gato
fica
a
espreita
da
porta
para
recolher
patês
de 
atum.

Ninguém
assiste
ao
silêncio.

Livre
de 
olhos.

Barulhos
fazem
imagens.

O silêncio,

solidão. 

Discretamente 

gato 
entra.

O silêncio
é 
habitável. 

A uma árvore de brócolis

Hidrate-se
Hidrate-se
 beba
    água.
Hidrate-se
    Peça
         perdão.
Hidrate-se
 Peça
   licença.
Hidrate-se
e diga
que 
não. 

Otávio

Hora do
almoço.

Relógio ao
contrário. 

Otávio
almoçou
às três
horas
da madrugada
de um 
dia de
chuva. 

No inverno
tudo
se torna
sombra
quando
chove. 

Erro de interpretação

Estava
escrito
"não". 

Houve 
uma 
inversão. 

Passado 
pelo
presente
incoerente. 

"não". 

Contendo
  o exterior,

O que se
    vê 
aplica. 

Na direção
da palavra
escrita
a fonética
empírica.

na
contramão.

Houve
uma
interpelação. 

Um 
máximo
erro,
(...)
de interpretação. 

domingo, 6 de novembro de 2016

Há cores
que põe
luzes
nos
rostos.

perfis
desmentem
sombras.

O menino
e o monstro. 

Irreconhecíveis
e desconhecidamente
notados.

mudas
músicas,

no afrontamento
geral
da tarde.

Concordâncias
submissas
ao sono
da manhã.

Reflexos
de
sujeitos
coletivos.

Na linha
do mar
tons
próximos.

Nas nuvens
difusas
à
profundidade
amena 
do céu. 



Bielô - moscas

Sempre
  gostei
    das
palavras
  duplas. 

Bielô-Russas 

que

batem-cartão

às três
da
tarde
em um
jogo
de tênis. 

Sharapovas
Nipo-cafezais
Indo-arrozais
Biêlo-Moscas
voadoras. 

sábado, 5 de novembro de 2016

É melhor ser cachorro

É melhor ser 
cachorro
o rabo
abanar. 

Melhor
ser
cachorro,

Latir,

ao revés de

falar. 

ser 
cachorro,

 perseguindo
pombos,

vendo o 
 dia acabar. 

caninos
contra

fatalidade.

O vento.

O focinho.

paisagens
distantes,
alcançáveis. 

A comida
dos donos

no sábado
a tarde.

rosnado
de baixo
calão. 

com o rabo
abanar.

Na enchente
nadar

ração
no prato

no
asfalto

esperar
o dia
esperar.