sexta-feira, 19 de abril de 2013

Lampejo dos ratos

Estrangeiro.

Eu sou um bobo da corte, de alguma sorte desconhecida, de corte desvanecida. Sem os guizos, meus pés sujar-se-ão na fuligem, no pó. A noite, e, talvez em vão, retiro-me com meus ratos a treinar papéis; todos adestrados nas escalas de uma desconhecida sinfonia... 
Restos de peças, escritas, e ícones, rejeitados pelos grandes patriarcas; são como as águas de um rio que passa e, indiferente, ignora as nossas palavras... 

O esgoto, a miragem. 

Acampamos, então, na cidade. Onde se percebem semblantes vários, aos nossos anexados. Fingimos, fugimos. A leptospirose dos bueiros, junto com a água da chuva transborda. 
De tocos íngremes, escutas e ícones. Onde ei de ficar? Os ratos ainda vão contíguos, esperando um número para adentrar a corte. No jogo de xadrez, talvez uma boa piada, um mitema vinculado a relações extremamente complexas e obscurecidas.  Na corte pode se tentar uma tirada espirituosa, algo que faça a síntese de todos os seres dos sentidos derramados junto a recortes no chão.

Chove. Pessoas protegem-se de um ácido que vem lá de cima, usam guarda-chuvas, correm, franzem os semblantes. São guarda-chuvas coloridos que elas carregam, sonhos impressos alheios no topo, nas cabeças. 

Depois que a chuva cai, corroendo os ídolos da cidade, eles lá estão, perduram, contudo, ninguém os vê. Estatuetas mui mudas falam doloridas. Protejam-se! Eu e meus ratos, caminhamos. Somos gritados, mas não há quem diga quem nos grita. Grunhidos em suspeita brancura.

Delicados demais para serem ratos, brancos de mais para o esgoto, e mesmo assim o compõe, e dessa forma, os acompanho.

Passo as mãos em meu rosto, tenho finos bigodes. Um só momento. Poderia lançar mão de gritos já ouvidos entre caixas de som. Contudo, não o faço. Limpo o papel do bufão. Bobo com ratos sem ratoeiras, ainda não bufão. 

Um respingo lampeja no rosto de meus pressupostos companheiros. Vejo peles brancas, pelos macios e pueris, a despeito da sujeira, a despeito de seus nomes: ratos!

Em um canto semi-obscuro juntamo-nos. Como um palhaço com guizos entre as mãos, respondo a Zéfiro se sim ou se não ao atravessar vitrais. Nenhuma reposta é direta. Isso ocorre por meio de sussurros abruptos e mudos. Agora encontro cores confusas, há um vitral na minha frente, uma egrégora, representações...
Não almejo a corte, apesar da suposta força de pressão de meus companheiros. Agora com seus pelos lilases, e olhos um tanto mais avermelhados. Alguns dos meus ratos, se tornaram ratazanas, e mordem-me o calcanhar. Houve um eclipse na noite em que chegamos. No sol, ainda há. Como no timbre da música que é solitário.

Clareira. 

Há roteiros na cidade, eles são impostos por um lógica sem fim, emudecida. Um mapa diferencia as entradas, elas se dão em saídas do mesmo lugar. Estatuetas. Todos espaços extinguem-se. Uma diretoria se desfaz em todas as ideias para onde ir. Os bichos seguem um mestre invisível, não eu, na manhã noturna e impalpável.
Adentro a corte, cartas são marcadas segurando cetros, ratos esperam que se possa comer do lixo todo enfeitado de pessoas. São embalagens em diversas línguas de que se faz, o que tem que fazer...

Há um esquema, projeto metade sabido, metade ignorado por desuso. Quando chove na cidade é sempre o caos. O texto promulga informações. Ninguém lê. 

O tempo dos homens enfadados procurando um objetivo sem sim. Um jovem sujeito vive numa caixa, proclama-se assujeitado, ninguém-um, não ouve, retem suas palavras. Narram seu cotidiano o responsabilizado de uma dor inacabavelmente alheia, incomensuravelmente estranhada. Começa e não tem fim. As palavras se tornam densas, ninguém lerá, o discurso pesado.

Um balde de tinta

cai.

no meio da cidade.

atinge alguns, outros ficam a deriva, pintando-se das cores já existentes, oferecem pincéis.




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