Estrangeiro.
Eu sou um
bobo da corte, de alguma sorte desconhecida, de corte desvanecida. Sem os guizos,
meus pés sujar-se-ão na fuligem, no pó. A noite, e, talvez em vão, retiro-me com
meus ratos a treinar papéis; todos adestrados nas escalas de uma
desconhecida sinfonia...
Restos de
peças, escritas, e ícones, rejeitados pelos grandes patriarcas; são como as águas de um rio que passa e, indiferente, ignora as nossas palavras...
O esgoto,
a miragem.
Acampamos, então, na cidade. Onde se percebem semblantes vários, aos nossos
anexados. Fingimos, fugimos. A leptospirose dos bueiros, junto com a água da
chuva transborda. De tocos
íngremes, escutas e ícones. Onde ei de ficar? Os ratos ainda
vão contíguos, esperando um número para adentrar a corte. No
jogo de xadrez, talvez uma boa piada, um mitema vinculado a relações extremamente
complexas e obscurecidas. Na corte pode se tentar uma tirada espirituosa,
algo que faça a síntese de todos os seres dos sentidos derramados junto a
recortes no chão.
Chove. Pessoas protegem-se de um ácido que vem lá de cima, usam guarda-chuvas,
correm, franzem os semblantes. São guarda-chuvas coloridos que elas carregam,
sonhos impressos alheios no topo, nas cabeças.
Depois que a chuva cai, corroendo os ídolos da cidade, eles lá estão, perduram,
contudo, ninguém os vê. Estatuetas mui mudas falam doloridas. Protejam-se! Eu e
meus ratos, caminhamos. Somos gritados, mas não há quem diga quem nos grita.
Grunhidos em suspeita brancura.
Delicados
demais para serem ratos, brancos de mais para o esgoto, e mesmo assim o compõe,
e dessa forma, os acompanho.
Passo as
mãos em meu rosto, tenho finos bigodes. Um só momento. Poderia lançar mão de gritos
já ouvidos entre caixas de som. Contudo, não o faço. Limpo o papel do bufão. Bobo
com ratos sem ratoeiras, ainda não bufão.
Um
respingo lampeja no rosto de meus pressupostos companheiros. Vejo peles
brancas, pelos macios e pueris, a despeito da sujeira, a despeito de seus
nomes: ratos!
Em um
canto semi-obscuro juntamo-nos. Como um palhaço com guizos entre as mãos,
respondo a Zéfiro se sim ou se não ao atravessar vitrais. Nenhuma reposta é
direta. Isso ocorre por meio de sussurros abruptos e mudos. Agora encontro
cores confusas, há um vitral na minha frente, uma egrégora, representações...
Não
almejo a corte, apesar da suposta força de pressão de meus companheiros. Agora
com seus pelos lilases, e olhos um tanto mais avermelhados. Alguns dos meus
ratos, se tornaram ratazanas, e mordem-me o calcanhar. Houve um eclipse na
noite em que chegamos. No sol, ainda há. Como no timbre da música que
é solitário.
Clareira.
Há roteiros na cidade, eles são impostos por um lógica sem fim, emudecida. Um
mapa diferencia as entradas, elas se dão em saídas do mesmo lugar. Estatuetas.
Todos espaços extinguem-se. Uma diretoria se desfaz em todas as ideias para onde
ir. Os bichos seguem um mestre invisível, não eu, na manhã noturna e impalpável.
Adentro a
corte, cartas são marcadas segurando cetros, ratos esperam que se possa comer
do lixo todo enfeitado de pessoas. São embalagens em diversas línguas de que
se faz, o que tem que fazer...
Há um esquema, projeto metade sabido, metade ignorado por desuso. Quando chove na
cidade é sempre o caos. O texto promulga informações. Ninguém lê.
O tempo
dos homens enfadados procurando um objetivo sem sim. Um jovem sujeito vive numa
caixa, proclama-se assujeitado, ninguém-um, não ouve, retem suas palavras.
Narram seu cotidiano o responsabilizado de uma dor inacabavelmente
alheia, incomensuravelmente estranhada. Começa e não tem fim. As
palavras se tornam densas, ninguém lerá, o discurso pesado.
Um balde de tinta
cai.
no meio da cidade.
atinge alguns, outros ficam a deriva, pintando-se das cores já existentes,
oferecem pincéis.